sábado, 14 de abril de 2012

Jesus A.C. (antes do Cristo)




                                                                                      Por Eloy Roy

Os grandes títulos divinos que damos a Jesus nos deslumbram tanto que nos deixam apenas com a sombra do homem que ele foi e continua sendo.

Para mim, antes de ser Cristo, Senhor ou Filho de Deus, Jesus é o homem dos lírios do campo, dos montes, dos peixes, das ovelhas, das multidões e dos pobres. É o homem livre, que não se permite ser amarrado pelas tradições e leis de seu povo, ainda mesmo aquelas que levam o selo de todos os direitos reservados a Deus.

A Jesus, pouco se lhe dá, por exemplo, enraivecer a toda a sociedade dos justos ou de machistas de seus tempo ao se rodear de mulheres e andar publicamente com elas e com pecadores.

Ele é o homem que se afasta da tribo, do clã, da família e da autoridade religiosa de seu povo. Com carinho, obedece a Deus como seu Pai bem amado, mas para as autoridades da terra não é mais que um homem desobediente e rebelde.

É famoso por sua mansidão, sua humildade, sua paciência e inesgotável compaixão, mas também por seu sentido de justiça e por seu espírito crítico, provocador, livre e libertador.

Arruma inimigos com facilidade e briga com eles, mas não os odeia. De fato os ama... a seu modo.

Jesus é pobre, mas anda como se não lhe faltasse nada. Encantam-no a simplicidade, a liberdade, a amizade e a alegria. Apesar das confusões que ocorrem por sua causa, sabe desfrutar da boa vida quando a encontra. É um caminheiro infatigável. Gosta de caminhar, gosta da pesca, das comidas do interior, dos casamentos, dos banquetes, das flores que não tecem nem fiam. Ama a terra e ama o mundo... Abre e não fecha. Dá voz aos que não se animam a falar.

O segredo da inteligência, da liberdade, do poder de Jesus, da raiz de sua grande capacidade de amar – apesar e contra tudo – lhe vem de Deus, a quem não vacila em chamar carinhosamente de “Abba”. Este Deus de Jesus não é uma destas definições que saem de algum dicionário de dois quilos: é Alguém. Alguém que vive nele e que o enche. Alguém que praticamente se confunde com ele, que ama, fala e atua por meio dele.

No final Jesus é rejeitado por isso: por ser a testemunha de um Deus demasiadamente parecido com ele. Um Deus que não respeita escrupulosamente todas as regras da religião. Eles o matam por romper os esquemas oficiais e por transtornar deste modo deste modo a tranquilidade espiritual das pessoas piedosas e a “paz” e sua nação.

Mas mesmo na cruz Jesus de modo algum se arrepende do que fez. Não se retrata, não pede desculpas, não pede perdão. Ainda neste momento extremo continua confiando na justiça de Deus, antes que na dos sacerdotes que o condenam. Perdoa a seus algozes e de nenhum modo lhes dá razão.

Este Jesus continuaria a falar muito fortemente aos jovens e a muita gente hoje se não houvesse sido colocado tão acima do humano. Se não o tivéssemos desencarnado tão rapidamente para coroá-lo Filho de Deus, Cristo e Senhor.

Se não nos tivéssemos apressado tanto em fazê-lo Deus, antes de haver usado todo o tempo necessário para mostrar tudo o que Deus podia fazer por meio dele, quando ele se conformava simplesmente em... ser humano.

Sim, creio que Jesus está “assentado” à direita de Deus. Creio que ele venceu a minha morte e a de toda a humanidade. Mas creio também que, semelhante ao jovem Davi, ele gostaria muito que lhe tirássemos de cima a pesada armadura real de que o revestimos para voltar a nós tal como se apresentou ao mundo há dois mil anos: um homem profundamente humano, animado por uma fé ilimitada em Deus e em cada um de nós, que, todos os dias, com os olhos postos no Reino, caminha com alegria ao nosso lado, partilhando conosco seu próprio sopro de vida. 
Tradução de Sérgio Marcus Pinto Lopes.

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